quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Relato de um estágio

 Local


    Durante meu estágio 1, realizado no semestre passado, fiz toda a parte prática desta matéria no CEM 01 de Sobradinho, Quadra 04, Área Especial 04 - Sobradinho, Brasília - DF. Meu plano e intenção eram retornar à esta escola durante o estágio 2, o que aconteceu parcialmente, porém em condições muito diferentes do meu primeiro estágio em seu contato com a prática escolar.

    Com a pandemia de COVID-19, o mundo viveu uma situação excepcional em múltiplas áreas, mas a educação sofreu uma mudança que nunca tinha experimentado. As aulas foram suspensas pelo decreto 40.509 de 11 de março de 2020 e posteriormente permaneceram suspensas até o dia 31 de maio, quando houve a antecipação de férias do período letivo. Entre as resoluções adotadas, estava a de que, a partir de 15 de julho do ano corrente, as atividades seriam feitas de maneira virtualizada e com um calendário letivo adaptado.

    Assim, a provisória 934, assinada na quarta-feira, dia 1 de abril, pelo Presidente da República, permitia a flexibilização dos dias letivos do ensino superior ao ensino fundamental, desde que respeitassem as 800 horas letivas de carga horária. Desta forma, meu estágio também foi virtualizado. Encontrei alunos, professores e um contexto para o estudo de ensino de filosofia completamente diferente do semestre passado.

    O local de observação do estágio mudou. Não era uma sala com um quadro branco e cerca de trinta alunos dispostos em carteiras, mas sim uma plataforma virtual na qual aconteciam atividades assíncronas, vídeos gravados com conteúdo prévio e um regime de estudos muito diferente.

CONTEXTO PANDÊMICO

Num primeiro momento, eu, enquanto estudante, tinha muitas preocupações sobre como o estágio seria feito e em que condições. No primeiro contato com a matéria de estágio não havia muitas informações sobre como todo este processo ocorreria.

Um dos motivos desta primeira ausência de informação era que não existia um protocolo para o estágio curricular supervisionado em caso de pandemia ou impedimento de prosseguimento das aulas, o que ocasionou, durante o estágio, que o Prof. Dr. Pedro Gontijo desenvolvesse toda parte burocrática que permitiu que, nas semanas finais do estágio, fosse possível observar as aulas no modelo virtualizado.

Enquanto esse processo se desenvolvia, a Prof. Dr. Ana Miriam auxiliou a classe e os alunos com base no que era necessário, um primeiro cuidado e acolhimento no período difícil da pandemia em seu auge para tornar a matéria o mais simples e acolhedora possível.

Houve, durante o semestre, duas atividades que foram de extrema importância para a realização do estágio nas atuais condições. A primeira delas foi a atividade sobre material para o ensino de filosofia online, suas referências e autores por trás desta publicação.

Ter realizado tal atividade permitiu a construção de alguns materiais para o ensino de filosofia virtualizado, principalmente em relação a levantamento de material para atividades e perceber algumas diferenças entre a pedagogia presente em uma aula presencial e uma virtualizada; diferenças estas que estão presentes no tempo das atividades, na forma de apresentá-las para manter a atenção dos alunos e os limites possíveis de trabalho, que são diferentes da aula presencial.

Ainda que inovações interessantes tenham surgido para trabalhar com os alunos, houve alguns atritos e desgastes com o atual modelo, que não é propriamente EaD. Segundo a Faculdade de Comunicação da UFG, EaD é caracterizada por uma didática e pedagogia própria, com uma metodologia específica que não é montada de maneira emergencial, como no caso do Ensino Remoto que foi adotado.

A outra atividade, essencial para a conclusão do estágio, foi sobre o Google Classroom e o Google Forms. É essencial entender estas ferramentas, pois a plataforma que foi adotada pelo GDF foi o Google Classroom, e os formulários foram importantes para colher o material de análise do estágio.

Entrevista com a professora Jaine de Sobradinho II.

Estagiário: Quais foram as principais mudanças no ensino de filosofia no modelo EAD?

Professora: O distanciamento físico, a restrição de conversa, a diminuição de troca de experiência e compartilhamento de saberes, a evasão escolar, dificuldade em lidar com o novo modelo de ensino (EAD).

Estagiário: Durante este período, como você sente a carga de trabalho?

Estagiário: Como você, enquanto docente, percebe o engajamento dos alunos? E seu aproveitamento de aula?

Professora: O engajamento dos alunos é pouco, as aulas a distância não me parece estar surtindo o efeito esperado. Alguns assistem a aula, outros só fazem as atividades. Alguns nem aceitaram o convite para acessar a plataforma.

Estagiário: Como docente, você teve alguma experiência ou treinamento anterior com ensino remoto e/ou assincrônico?

Professora​: Não houve experiência ou treinamento anterior. Estou aprendendo sendo durante o processo. Desde o início das aulas EAD, estou fazendo vários cursos. Temos também a ajuda da equipe gestora e coordenação da escola, que tem nos ajudado a entender como funciona a plataforma.

Estagiário: Como você avaliaria a plataforma virtual de ensino até o momento?

Estagiário: A secretaria de educação está fornecendo algum apoio para a acessibilidade dos alunos? E dos professores?

Professora: A secretária não está fornecendo apoio. A escola, bem como os professores, desde o início, tem utilizado seus próprios recursos, para tornar possível o acesso a nova modalidade de ensino.

Estagiário: A matéria de filosofia, em sua opinião, se traduz bem em no modelo virtual?

Professora: Sinto que ainda estamos engatinhando, porém tenho uma perspectiva de que podemos melhorar. Percebo que o modelo virtual ainda limita o diálogo e a troca de saberes.

Considerando as respostas da professora Jaine em paralelo com as respostas dos alunos, temos a denúncia de dois problemas muito graves. A primeira é uma observação da falta de engajamento dos alunos e um possível aumento da evasão escolar, seja os alunos participando parcialmente da plataforma, o que explica a baixa adesão de respostas do formulário. Outro problema gravíssimo é a falta de estrutura operacional para a virtualização das aulas.

Entre os alunos do primeiro ano, as turmas W, V, T e U somavam 58 alunos, e entre os alunos do terceiro, ano 75 alunos. Ao todo, 133 alunos poderiam ter respondido o questionário. Ter 15 alunos respondendo é o equivalente de 11%. A situação que a professora Jaine relata sobre o engajamento dos alunos pode estar denunciando uma situação muito mais grave que o apresentado no questionário. Seria muito importante olhar para esta massa silenciosa de alunos que não estão sendo ouvidos, pensar em que contexto estes alunos estão e suas possibilidades de acesso.

Um trecho importante do que a professora relatou é a ausência de de apoio por parte da secretaria de educação para os alunos, no caso do GDF, segundo a entrevista publicada pela Agência Brasil, com o secretário executivo Fábio Souza sobre como seria a liberação da internet gratuita; que foi muito limitada a operadoras específicas e condições de acessibilidade que não pensaram na acessibilidade material dos alunos, se seus celulares poderiam rodar o aplicativo, se seus aparelhos não seriam antigos e potentes o suficiente e houve reclamações dos alunos por conta do aplicativo não rodar bem.

Para os professores, a situação se apresenta precária, uma vez que não foi oferecido um material comum aos professores para dominarem as ferramentas. Por mais intuitivo que fosse o aplicativo, a professora tem que utilizar de seus próprios recursos e materiais e recai sob a unidade escolar a responsabilidade de equalizar o acesso e realizar a alfabetização e o treinamento digital.

O sentimento de diálogo limitado, de dificuldades para trabalhar e atingir os alunos parece ser um problema metodológico sobre como a estrutura e planejamento, no caso a falta, atinge os professores e seu reflexo para com os alunos.

O sentimento de estar trabalhando mais e atingindo menos os alunos, sem o auxílio adequado e o contexto epidêmico, pode levar a um agravamento da saúde mental dos professores.

Algumas observações sobre o estágio.

1. Ficou claro no contexto pandêmico a necessidade de os alunos de graduação nas licenciaturas terem um conhecimento mínimo de ferramentas digitais, linguagem digital e didática que este formato demanda.

2. Outra adição importante é uma noção básica de cuidados para a saúde mental, tanto para com os professores quanto para com os alunos.

3. Enquanto estudantes de licenciatura, professores e alunos, tendo em vista o prolongamento da situação pandêmica, organizar a estrutura para este ensino e todos os cuidados necessários para seu prosseguimento.

4. Seria interessante uma pesquisa mais ampla com os alunos e professores, para fazer um balanço geral, para buscar os dados mais apurados neste período.


Conclusão

Este estágio apresentou desafios, burocracias e dificuldades ímpares em meio a uma tragédia global, mas no melhor espírito de tentar extrair o melhor possível de desta circunstância, refletir sobre a educação.

Foi uma oportunidade de aprimorar minha experiência como docente e este novo contexto como pesquisador se mostrou útil para repensar alguns parâmetros da educação, tanto em sentido teórico quanto prático.

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