Se já estivemos em dúvida sobre a existência pensadoras brasileiras, com textos como o Acerca da existência de filósofas no Brasil , da pensadora Ana Míriam Wuensch, não há mais como continuar com tal questionamento. Pois aqui vemos caminhos abertos nos apresentando onde procurar por essas mulheres que têm tanto a nos dizer, mostra que iremos achá-las em caminhos não ortodoxos, talvez suas teses não estejam aos montes em bancos de currículos Lattes. Mas isso não quer dizer que elas não existem, muito pelo contrário, temos de nos acostumar a ideia de que pensamentos importantes não se fazem apenas na academia. Inclusive, muitas mulheres que propõem reflexões filosóficas não são chamadas de pensadoras ou filósofas, chamamos de escritoras, por exemplo, Clarice Lispector, e como ela há muitas outras. Lembrando que não existe demérito nenhum em ser escritora, a questão é a falta de reconhecimento em uma área na qual elas contribuem muito.
A brasileiríssima filosofia
sexta-feira, 11 de dezembro de 2020
Onde estão as pensadoras brasileiras?
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
Entrevista com uma professora de filosofia
Quais foram as principais mudanças no ensino de filosofia no modelo EAD?
- Participação, desenvolvimento de novas metodologias de aprendizagem, frequência dos estudantes.
Durante este período, como você sente a carga de trabalho?
- A carga de trabalho aumentou significativamente.
Como você enquanto docente percebe o engajamento dos alunos? E seu aproveitamento de aula?
-Percebi que os estudantes estão mais desanimados com a sobrecarga de atividades e pouco se envolvem com os estudos.
Como docente, você teve alguma experiência ou treinamento anterior com ensino remoto e/ou assíncrono?
- Anterior ao período da pandemia, não. A partir do momento de pandemia, a Secretaria de Educação nos oportunizou cursos para prática de aulas síncronas e assíncronas.
Como você avaliaria a plataforma virtual de ensino até o momento?
- Ineficiente, com muitas falhas e não intuitivo.
A secretaria de educação está fornecendo algum apoio para a acessibilidade dos alunos? E para os professores?
- Sim, com atividades impressas e também em conformidade com orientação específica da sala de recursos e atendimento especializado. Para os professores o apoio está mais relacionado à sensibilidade da gestão escolar.
Relato de um estágio
Local
Durante meu estágio 1, realizado no semestre passado, fiz toda a parte prática desta matéria no CEM 01 de Sobradinho, Quadra 04, Área Especial 04 - Sobradinho, Brasília - DF. Meu plano e intenção eram retornar à esta escola durante o estágio 2, o que aconteceu parcialmente, porém em condições muito diferentes do meu primeiro estágio em seu contato com a prática escolar.
Com a pandemia de COVID-19, o mundo viveu uma situação excepcional em múltiplas áreas, mas a educação sofreu uma mudança que nunca tinha experimentado. As aulas foram suspensas pelo decreto 40.509 de 11 de março de 2020 e posteriormente permaneceram suspensas até o dia 31 de maio, quando houve a antecipação de férias do período letivo. Entre as resoluções adotadas, estava a de que, a partir de 15 de julho do ano corrente, as atividades seriam feitas de maneira virtualizada e com um calendário letivo adaptado.
Assim, a provisória 934, assinada na quarta-feira, dia 1 de abril, pelo Presidente da República, permitia a flexibilização dos dias letivos do ensino superior ao ensino fundamental, desde que respeitassem as 800 horas letivas de carga horária. Desta forma, meu estágio também foi virtualizado. Encontrei alunos, professores e um contexto para o estudo de ensino de filosofia completamente diferente do semestre passado.
O local de observação do estágio mudou. Não era uma sala com um quadro branco e cerca de trinta alunos dispostos em carteiras, mas sim uma plataforma virtual na qual aconteciam atividades assíncronas, vídeos gravados com conteúdo prévio e um regime de estudos muito diferente.
CONTEXTO PANDÊMICO
Num primeiro momento, eu, enquanto estudante, tinha muitas preocupações sobre como o estágio seria feito e em que condições. No primeiro contato com a matéria de estágio não havia muitas informações sobre como todo este processo ocorreria.
Um dos motivos desta primeira ausência de informação era que não existia um protocolo para o estágio curricular supervisionado em caso de pandemia ou impedimento de prosseguimento das aulas, o que ocasionou, durante o estágio, que o Prof. Dr. Pedro Gontijo desenvolvesse toda parte burocrática que permitiu que, nas semanas finais do estágio, fosse possível observar as aulas no modelo virtualizado.
Enquanto esse processo se desenvolvia, a Prof. Dr. Ana Miriam auxiliou a classe e os alunos com base no que era necessário, um primeiro cuidado e acolhimento no período difícil da pandemia em seu auge para tornar a matéria o mais simples e acolhedora possível.
Houve, durante o semestre, duas atividades que foram de extrema importância para a realização do estágio nas atuais condições. A primeira delas foi a atividade sobre material para o ensino de filosofia online, suas referências e autores por trás desta publicação.
Ter realizado tal atividade permitiu a construção de alguns materiais para o ensino de filosofia virtualizado, principalmente em relação a levantamento de material para atividades e perceber algumas diferenças entre a pedagogia presente em uma aula presencial e uma virtualizada; diferenças estas que estão presentes no tempo das atividades, na forma de apresentá-las para manter a atenção dos alunos e os limites possíveis de trabalho, que são diferentes da aula presencial.
Ainda que inovações interessantes tenham surgido para trabalhar com os alunos, houve alguns atritos e desgastes com o atual modelo, que não é propriamente EaD. Segundo a Faculdade de Comunicação da UFG, EaD é caracterizada por uma didática e pedagogia própria, com uma metodologia específica que não é montada de maneira emergencial, como no caso do Ensino Remoto que foi adotado.
A outra atividade, essencial para a conclusão do estágio, foi sobre o Google Classroom e o Google Forms. É essencial entender estas ferramentas, pois a plataforma que foi adotada pelo GDF foi o Google Classroom, e os formulários foram importantes para colher o material de análise do estágio.
Entrevista com a professora Jaine de Sobradinho II.
Estagiário: Quais foram as principais mudanças no ensino de filosofia no modelo EAD?
Professora: O distanciamento físico, a restrição de conversa, a diminuição de troca de experiência e compartilhamento de saberes, a evasão escolar, dificuldade em lidar com o novo modelo de ensino (EAD).
Estagiário: Durante este período, como você sente a carga de trabalho?
Estagiário: Como você, enquanto docente, percebe o engajamento dos alunos? E seu aproveitamento de aula?
Professora: O engajamento dos alunos é pouco, as aulas a distância não me parece estar surtindo o efeito esperado. Alguns assistem a aula, outros só fazem as atividades. Alguns nem aceitaram o convite para acessar a plataforma.
Estagiário: Como docente, você teve alguma experiência ou treinamento anterior com ensino remoto e/ou assincrônico?
Professora: Não houve experiência ou treinamento anterior. Estou aprendendo sendo durante o processo. Desde o início das aulas EAD, estou fazendo vários cursos. Temos também a ajuda da equipe gestora e coordenação da escola, que tem nos ajudado a entender como funciona a plataforma.
Estagiário: Como você avaliaria a plataforma virtual de ensino até o momento?
Estagiário: A secretaria de educação está fornecendo algum apoio para a acessibilidade dos alunos? E dos professores?
Professora: A secretária não está fornecendo apoio. A escola, bem como os professores, desde o início, tem utilizado seus próprios recursos, para tornar possível o acesso a nova modalidade de ensino.
Estagiário: A matéria de filosofia, em sua opinião, se traduz bem em no modelo virtual?
Professora: Sinto que ainda estamos engatinhando, porém tenho uma perspectiva de que podemos melhorar. Percebo que o modelo virtual ainda limita o diálogo e a troca de saberes.
Considerando as respostas da professora Jaine em paralelo com as respostas dos alunos, temos a denúncia de dois problemas muito graves. A primeira é uma observação da falta de engajamento dos alunos e um possível aumento da evasão escolar, seja os alunos participando parcialmente da plataforma, o que explica a baixa adesão de respostas do formulário. Outro problema gravíssimo é a falta de estrutura operacional para a virtualização das aulas.
Entre os alunos do primeiro ano, as turmas W, V, T e U somavam 58 alunos, e entre os alunos do terceiro, ano 75 alunos. Ao todo, 133 alunos poderiam ter respondido o questionário. Ter 15 alunos respondendo é o equivalente de 11%. A situação que a professora Jaine relata sobre o engajamento dos alunos pode estar denunciando uma situação muito mais grave que o apresentado no questionário. Seria muito importante olhar para esta massa silenciosa de alunos que não estão sendo ouvidos, pensar em que contexto estes alunos estão e suas possibilidades de acesso.
Um trecho importante do que a professora relatou é a ausência de de apoio por parte da secretaria de educação para os alunos, no caso do GDF, segundo a entrevista publicada pela Agência Brasil, com o secretário executivo Fábio Souza sobre como seria a liberação da internet gratuita; que foi muito limitada a operadoras específicas e condições de acessibilidade que não pensaram na acessibilidade material dos alunos, se seus celulares poderiam rodar o aplicativo, se seus aparelhos não seriam antigos e potentes o suficiente e houve reclamações dos alunos por conta do aplicativo não rodar bem.
Para os professores, a situação se apresenta precária, uma vez que não foi oferecido um material comum aos professores para dominarem as ferramentas. Por mais intuitivo que fosse o aplicativo, a professora tem que utilizar de seus próprios recursos e materiais e recai sob a unidade escolar a responsabilidade de equalizar o acesso e realizar a alfabetização e o treinamento digital.
O sentimento de diálogo limitado, de dificuldades para trabalhar e atingir os alunos parece ser um problema metodológico sobre como a estrutura e planejamento, no caso a falta, atinge os professores e seu reflexo para com os alunos.
O sentimento de estar trabalhando mais e atingindo menos os alunos, sem o auxílio adequado e o contexto epidêmico, pode levar a um agravamento da saúde mental dos professores.
Algumas observações sobre o estágio.
1. Ficou claro no contexto pandêmico a necessidade de os alunos de graduação nas licenciaturas terem um conhecimento mínimo de ferramentas digitais, linguagem digital e didática que este formato demanda.
2. Outra adição importante é uma noção básica de cuidados para a saúde mental, tanto para com os professores quanto para com os alunos.
3. Enquanto estudantes de licenciatura, professores e alunos, tendo em vista o prolongamento da situação pandêmica, organizar a estrutura para este ensino e todos os cuidados necessários para seu prosseguimento.
4. Seria interessante uma pesquisa mais ampla com os alunos e professores, para fazer um balanço geral, para buscar os dados mais apurados neste período.
Conclusão
Este estágio apresentou desafios, burocracias e dificuldades ímpares em meio a uma tragédia global, mas no melhor espírito de tentar extrair o melhor possível de desta circunstância, refletir sobre a educação.
Foi uma oportunidade de aprimorar minha experiência como docente e este novo contexto como pesquisador se mostrou útil para repensar alguns parâmetros da educação, tanto em sentido teórico quanto prático.
Relato de estágio
Sinceramente, relutei muito em aceitar que o
estágio seria online, pensei em trancar algumas vezes, ou fazê-lo de forma
estritamente teórica, visto que nos foi dada esta opção. Mas não fiquei
confortável com a ideia de participar de uma disciplina de educação tão prática
quanto é o estágio, sem ter o mínimo de contato com os alunos. Nunca foi minha
intenção aprender a dar aula, ou preparar uma aula pensando em mim, nunca foi
sobre isso e acredito que nunca vai ser. Dar aula é sempre sobre comunicação,
sobre dar e receber. Então, fazer estágio sem saber em que pé os alunos estão
na aprendizagem durante a pandemia, sem saber como eles utilizam o ambiente
virtual que foi disponibilizado, não me pareceu uma boa opção.
Porém,
como já era esperado, o estágio este semestre foi completamente diferente de
qualquer outra experiência que tivemos antes no ensino. No meu caso, não
conhecia a escola, na verdade, nunca sequer cheguei perto da escola na qual
estes alunos estão matriculados, não conheci pessoalmente a professora que acompanhei,
não vi o rosto de nenhum dos alunos, sequer vi metade dos alunos aparecerem na
aula síncrona. Não sei como eles se comportam em sala, quais são os mais
conversadores ou os mais tímidos, também não sei se a professora é mais do tipo
que escreve muito no quadro ou se apresenta slides. Portanto, a ideia de tentar
conhecer quase por completo como se dá o ensino e a aprendizagem neste momento
foi ambiciosa demais. Mas, o que eu sei é que o esforço é tremendo, de todos os
lados, para fazer a transmissão de conhecimento acontecer dessa forma.
1. Antes do estágio
Uma das
primeiras coisas a se preocupar no estágio são os documentos necessários e
conseguir as assinaturas de todas as partes envolvidas, universidade,
estagiário, departamento, regional de ensino e escola. Antes o que se fazia era
levar em mãos os papéis para coletar assinaturas de cada uma dessas partes. O
que obviamente não daria para ser feito enquanto todos estão sob recomendações
de distanciamento social.
Então
encontramos uma das primeiras dificuldades, o preparo dos documentos. Sabia-se
que para eles ficarem prontos, todas as instituições envolvidas deveriam entrar
em um acordo de como este processo iria acontecer, e isso levou um tempo
considerável. Neste novo meio de organizar a documentação, percebe-se que
apesar de todos os enormes pesares, fez-se um jeito diferente de resolver
burocracias antigas, cuja principal reclamação era justamente a falta de
praticidade. Pois, ter de levar os documentos pessoalmente em todos os lugares
nos tomava uma quantidade de tempo relevante, e o principal questionamento era de
o porquê desse procedimento não ser feito online. Com a situação pandêmica
vimos que é possível, as circunstâncias caóticas nos obrigaram achar uma
solução para algo que já era um problema, mas que com a pandemia se tornou, de
fato, uma impossibilidade.
Tais trâmites burocráticos nos fizeram
exercitar as atividades típicas do estágio de outras formas. Formulando
atividades que consideramos ser adequadas para alunos de ensino médio,
dedicamos também um tempo para aprender como funciona a plataforma Google Sala
de Aula, o qual é o meio utilizado pela Secretaria de Educação do Distrito
Federal. Explorar as plataformas antes de começar o estágio foi importante para
estarmos familiarizados com este ambiente virtual que seria parte da nossa
realidade no futuro. Fizemos atividades para nossos colegas de turma
responderem, pensando em como relacionar as questões da COVID-19 com a
filosofia, uma vez que sempre insistimos que a partir da filosofia se pode
pensar sobre tudo.
O fato de
a turma de estágio estar sempre em contato facilitou a experiência, afinal, se
não fosse dessa forma alguns de nós teria muito mais dificuldade para
acompanhar as atividades e, inclusive para encontrar um professor que nos
recebesse em suas aulas. No meu caso mesmo, se não fosse um colega colocando no
grupo a informação de que a professora de uma escola pública estava
disponível para nos acolher, talvez tivesse demorado mais.
2. Durante
o Estágio
Uma vez
que os problemas com a documentação estavam resolvidos, a professora me avisou
que eu já poderia participar das aulas e assim foi. Ela estava dando aula nos
modelos da semestralidade, no qual os alunos têm aulas de filosofia em apenas
um semestre do ano com quatro aulas por semana, e do novo ensino médio, em duas
disciplinas eletivas de filosofia. Suas turmas eram de 1º e 2º ano do ensino
médio no turno vespertino.
O choque
de realidade e o alinhamento de expectativas veio logo na primeira aula, do 2º
ano, quando cheguei à chamada de vídeo esperando ver uma turma cheia, e me
deparo com cinco alunas. Depois a professora relatou que no ensino remoto era
sempre assim, o que nos faz imaginar várias possibilidades para um ocorrido
como este. Pois, pensar que é mero desinteresse dos alunos é ser simplista
demais. A internet deles pode não funcionar direito, alguns sequer têm internet
em casa, eles podem estar ocupados ajudando em atividades domésticas e claro,
pode ser também o desinteresse. Mas, ainda assim, tal desânimo pode vir de
muitos lugares, pode vir principalmente deste momento do mundo, no qual ninguém
está tranquilo e inteiramente centrado, seja aluno ou professor. Além disso, as
aulas ficam gravadas, o que lhes permite vê-las a hora que quiserem e fazer
seus horários, portanto, eles perdem a interação ao vivo com os colegas e a
professora, mas não perdem conteúdo por não comparecerem na aula síncrona.
Logo, aulas seguiram desse modo, com pouquíssimos alunos, o encontro em que
estavam presentes mais pessoas, contava com doze alunos numa turma de 1º ano.
Nas
turmas de matérias eletivas apareciam ainda menos estudantes, em uma delas
costumava ter em torno de quatro alunos e em outra apenas um. Ponto importante
sobre as matérias eletivas é que elas não contam com material didático pronto,
os professores responsáveis por tais disciplinas devem produzir o material, o
que aumenta substancialmente a carga de trabalho. Ou seja, além da orientação
que recebem para que após todas as aulas se tenha uma atividade, os
profissionais do novo ensino médio têm de pensar no conteúdo, elaborar e
disponibilizar um material e uma atividade para todas as aulas. Dada nossa
realidade atual, estamos autorizados a constatar que estudantes e professores
estão sobrecarregados.
Em
relação as atividades feitas para os alunos, tive a oportunidade de desenvolver
um material para o 2º ano sobre filosofia medieval. Foi proposto em aula para
que os alunos assistissem o filme O nome da rosa, baseado no livro de
mesmo nome do Umberto Eco. Com isso, fiquei responsável por preparar uma fala
para os alunos sobre o filme, abordando a forma que o conhecimento era
realizado na Idade Média, como encaravam a filosofia na época e o papel da
Igreja no que diz respeito a produção de conhecimento. A ideia era falar um
pouco sobre isso em uma aula síncrona, no entanto, nenhum aluno compareceu, então
apenas o material escrito foi postado para eles junto com uma atividade do
livro didático.
Por fim, as
outras atividades do estágio se resumem a conhecer a sala de aula das turmas no
Google Sala de Aula, assistir algumas aulas gravadas e observar a atividades
realizadas dos alunos. Quanto as atividades, percebe-se que muitos deixam para
fazer de última hora, outros simplesmente não fazem, mas algumas que tive
oportunidade de ver demonstravam esforço, é possível perceber que realmente
pararam para pensar e responder.
3. Depois
do Estágio
Assim
como tudo este ano, meu estágio terminou de uma maneira não usual. A professora
que estava acompanhando foi devolvida à regional de ensino para a alocação de
outro professor, a notícia foi recebida com surpresa. Por isso finalizei antes
do esperado e de forma inesperada. Quando acontece de um professor sair assim
para outro entrar, a orientação é que se dispense os estagiários a fim de que o
novo professor não fique sobrecarregado. Consequentemente, fui dispensada, mas
sem grandes prejuízos a experiência como um todo.
Uma coisa
necessária para os interessados em lecionar aprenderem, internalizarem e nunca
mais esquecerem, é que nós escolhemos estudar filosofia, aqueles adolescentes
que sentam em suas carteiras para nos ouvir, não escolheram. As vezes é difícil
aceitar que o que temos a dizer pode não ser interessante. No final de todo
este percurso vemos o quão difícil é ganhar a atenção dos estudantes, pois uma
vez que sua frequência e participação não são obrigatórias, eles não se
envolvem. O que nos leva a questionar se quando eles iam à escola, se estavam
realmente lá, com a mente presente, e o que pode tornar o estudo desmotivador
para eles. Afinal, a culpa dificilmente é só de um lado, é preciso compreensão
para ganharmos os alunos de volta, é preciso querer se aproximar.
No fim
das contas, se uma matéria não conversar com os alunos, não falar sobre nada
que eles conhecem, é muito mais difícil gerar interesse, nossa disciplina
também precisa dialogar com seu tempo. Por exemplo, se a filosofia não tiver
nada a dizer sobre a pandemia e todos os problemas socias, morais, psicológicos
que ela gera, então quer dizer que a filosofia não conversa com o que é atual,
logo, não irá gerar identificação. Tanto é que, quando foi feita uma discussão
sobre Hipátia e mulheres filósofas, tivemos mais engajamento das meninas
presentes, porque quando você se reconhece num problema colocado, a curiosidade
vem naturalmente. Ainda que a Hipátia não seja uma contemporânea, o que quer dizer que não
há a necessidade de ignorar a tradição para tornar o conteúdo mais atrativo,
mais palatável para o adolescente no ensino médio.
Considerações
finais
É sempre
incrível ver pessoas se esforçando para fazer a educação acontecer em um país
como o nosso, que por tantas vezes a negligencia. Ver professores dedicados nos
faz acreditar que é possível fazer alguma diferença.
Todavia, percebe-se também que todos estão exaustos e abarrotados de coisas para fazer. Porque as instituições parecem cobrar desses professores e alunos uma produtividade impraticável para este ano. Isso se transforma num ciclo vicioso que adoece a todos. Dado que, a instituição cobra do professor, que cobra do aluno e este não dá o resultado que é esperado, o que gera mais cobrança. Assim ficamos numa roda eterna de exigências impossíveis.
Sem respostas definitivas para a nossa situação, concluo o estágio com o sentimento de que fizemos o que pudemos, mas com a consciência de que é sempre possível melhorar e se reinventar. Pois, os tempos sombrios pelos quais estamos passando, além de provocar sofrimento, também ensinam e, mais do que nunca, é importante aprender a ter empatia com todos os envolvidos neste processo.
Dois estagiários, uma pandemia
Fazer o estágio em tudo que ele envolve em tempos normais, já não é fácil. Mas fazer o estágio no ensino remoto em meio a uma pandemia exige de todos nós, alunos e professores, uma paciência em níveis dificilmente alcançados. A começar pela possibilidade com a qual tivemos de lidar, no início de tudo, de não ter estágio. Descartada essa hipótese, carregávamos, a partir de então, um novo pacote de ansiedades, que iam desde perguntas como "será que minha internet vai cair na hora da aula?" até "como vamos conseguir providenciar os documentos para, de fato, fazer o estágio?". Aqui estamos agora, depois de algumas instabilidades na internet e documentos assinados por muitas pessoas, terminando o estágio. Com alguma experiência e mentes cansadas.
Nos próximos posts, teremos dois relatos diferentes de estágio, diferentes escolas, professoras, alunos e estagiários. Mas são experiências que se complementam, e acreditamos que ter compilado dois pontos de vista distintos de estagiários no ensino remoto neste momento do mundo, pandêmico e caótico, pode ser enriquecedor.
Existe uma filosofia brasileira?
Qual é a forma da filosofia? Se observarmos dentro do cânone da filosofia ocidental encontramos textos de filosofia escritos das mais diversas formas, Platão escreveu diálogos, Montaigne escreveu ensaios, Voltaire escreveu romances satíricos e Nietzsche escreveu aforismos. Então, qual seria a forma da filosofia brasileira? Não faz sentido pensar, dado este contexto, para não falar de filosofia oriental e africana, que somente artigos escritos ao molde da ABNT ou livros escritos aos moldes acadêmicos seriam filosofia.
Esta questão não é simples em parte porque já passa por uma questão filosófica, como fazemos filosofia? E não temos a pretensão de exaurir esta questão em um post de blog, mas enquanto reflexão vale a pena o questionamento sobre como seria a filosofia brasileira, talvez alguns livros possam nos ajudar a com seus contornos gerais.
Por exemplo, A queda do céu de Davi Kopenawa, um xamã indígena, que neste livro oferece uma profunda e abrangente visão sobre a metafisica e a cosmovisão dos povos originários, um tema filosófico tradicionalmente. Kopenawa nos lembra que as tradições indígenas são orais e que este livro é uma exceção, mesmo que contemporaneamente tenhamos algumas lideranças engajadas, como Ailton Krenak, em divulgar o pensamento indígena, seria importante o engajamento por parte dos atuais professores de filosofia e filósofos para trabalhar este tema. Inclusive para o ensino médio, quanto a questão da oralidade, que não é um terreno incomum a filosofia.
A filosofia africana também é importante de ser trabalhada não apenas pelo enorme legado de povos africanos no Brasil. O que já é razão suficiente em importância e necessidade, mas a existência da lei 10.639 que torna para os professores de filosofia imperativo saber trabalhar com a filosofia africana.
Há também aqueles que investigam o cruzamento entre a literatura e a filosofia, este tema no entanto será abordado em outro post que está programado para ser postado em breve, mas por hora pontuamos esta relação.
Por fim deixamos a você leitores do blog uma escolha, caso vocês queiram, entre as escolas de filosofia presentes no brasil no século XIX, qual delas você gostaria de ver apresentada em um futuro post a positivista ou a ecletista? Conte para nós, mas só se você quiser.
Muito Obrigado.
terça-feira, 8 de dezembro de 2020
Por onde começar?
Onde estão as pensadoras brasileiras?
Se já estivemos em dúvida sobre a existência pensadoras brasileiras, com textos como o Acerca da existência de filósofas no Brasil , da ...
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Se já estivemos em dúvida sobre a existência pensadoras brasileiras, com textos como o Acerca da existência de filósofas no Brasil , da ...