sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Onde estão as pensadoras brasileiras?

   Se já estivemos em dúvida sobre a existência pensadoras brasileiras, com textos como o Acerca da existência de filósofas no Brasil , da pensadora Ana Míriam Wuensch, não há mais como continuar com tal questionamento. Pois aqui vemos caminhos abertos nos apresentando onde procurar por essas mulheres que têm tanto a nos dizer, mostra que iremos achá-las em caminhos não ortodoxos, talvez suas teses não estejam aos montes em bancos de currículos Lattes. Mas isso não quer dizer que elas não existem, muito pelo contrário, temos de nos acostumar a ideia de que pensamentos importantes não se fazem apenas na academia. Inclusive, muitas mulheres que propõem reflexões filosóficas não são chamadas de pensadoras ou filósofas, chamamos de escritoras, por exemplo, Clarice Lispector, e como ela há muitas outras. Lembrando que não existe demérito nenhum em ser escritora, a questão é a falta de reconhecimento em uma área na qual elas contribuem muito.

   Quando se fala de pensadoras no Brasil, não podemos esquecer que grande partes delas são negras e que este é um dos motivos para que sejam invisibilizadas. Para pensar a partir da perspectiva dessas mulheres, existe o texto Pensar o Invisível: As mulheres negras como produtoras de pensamento filosófico, de Aline Matos da Rocha. O qual aborda importantes questões acerca da invisibilidade do pensamento filosófico de mulheres negras, a ideia é passar a ver aquilo que é ignorado pela supremacia masculina e branca, ocupando-se do que pensadoras negras disseram. O texto problematiza questões como a violência presente em definir uma coisa opondo-a a outra (ser/não-ser), a autora nos mostra que uma das partes sempre acaba sendo inferiorizada em detrimento da outra nesse processo. Dessa forma, além de estarem em posição de desvantagem em relação aos homens, as mulheres negras também o estão em relação aos brancos. Afinal de contas, quando o parâmetro é masculino e branco, há tentativas de silenciar pensadoras negras em todos os momentos.

   Portanto, vê-se que as pensadoras brasileiras estão em vários lugares, pensando a partir de várias posições sociais que mulheres ocupam. Houve apenas a escolha de não as deixarem tão visíveis assim. Mas trabalhamos para que isso aconteça cada vez menos, até não acontecer mais.

Um abraço,
Até a próxima.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Entrevista com uma professora de filosofia

 Quais foram as principais mudanças no ensino de filosofia no modelo EAD? 

   - Participação, desenvolvimento de novas metodologias de aprendizagem, frequência dos estudantes.

Durante este período, como você sente a carga de trabalho?

    - A carga de trabalho aumentou significativamente.

Como você enquanto docente percebe o engajamento dos alunos? E seu aproveitamento de aula?

    -Percebi que os estudantes estão mais desanimados com a sobrecarga de atividades e pouco se envolvem com os estudos.

Como docente, você teve alguma experiência ou treinamento anterior com ensino remoto e/ou assíncrono?

    - Anterior ao período da pandemia, não. A partir do momento de pandemia, a Secretaria de Educação nos oportunizou cursos para prática de aulas síncronas e assíncronas.

Como você avaliaria a plataforma virtual de ensino até o momento?

    - Ineficiente, com muitas falhas e não intuitivo.

A secretaria de educação está fornecendo algum apoio para a acessibilidade dos alunos? E para os professores?

    - Sim, com atividades impressas e também em conformidade com orientação específica da sala de recursos e atendimento especializado. Para os professores o apoio está mais relacionado à sensibilidade da gestão escolar.

A matéria de filosofia em sua opinião se traduz bem no modelo virtual?
    - Sim, mas se houver mais interação entre os estudantes, seria bem mais atratativa.

Relato de um estágio

 Local


    Durante meu estágio 1, realizado no semestre passado, fiz toda a parte prática desta matéria no CEM 01 de Sobradinho, Quadra 04, Área Especial 04 - Sobradinho, Brasília - DF. Meu plano e intenção eram retornar à esta escola durante o estágio 2, o que aconteceu parcialmente, porém em condições muito diferentes do meu primeiro estágio em seu contato com a prática escolar.

    Com a pandemia de COVID-19, o mundo viveu uma situação excepcional em múltiplas áreas, mas a educação sofreu uma mudança que nunca tinha experimentado. As aulas foram suspensas pelo decreto 40.509 de 11 de março de 2020 e posteriormente permaneceram suspensas até o dia 31 de maio, quando houve a antecipação de férias do período letivo. Entre as resoluções adotadas, estava a de que, a partir de 15 de julho do ano corrente, as atividades seriam feitas de maneira virtualizada e com um calendário letivo adaptado.

    Assim, a provisória 934, assinada na quarta-feira, dia 1 de abril, pelo Presidente da República, permitia a flexibilização dos dias letivos do ensino superior ao ensino fundamental, desde que respeitassem as 800 horas letivas de carga horária. Desta forma, meu estágio também foi virtualizado. Encontrei alunos, professores e um contexto para o estudo de ensino de filosofia completamente diferente do semestre passado.

    O local de observação do estágio mudou. Não era uma sala com um quadro branco e cerca de trinta alunos dispostos em carteiras, mas sim uma plataforma virtual na qual aconteciam atividades assíncronas, vídeos gravados com conteúdo prévio e um regime de estudos muito diferente.

CONTEXTO PANDÊMICO

Num primeiro momento, eu, enquanto estudante, tinha muitas preocupações sobre como o estágio seria feito e em que condições. No primeiro contato com a matéria de estágio não havia muitas informações sobre como todo este processo ocorreria.

Um dos motivos desta primeira ausência de informação era que não existia um protocolo para o estágio curricular supervisionado em caso de pandemia ou impedimento de prosseguimento das aulas, o que ocasionou, durante o estágio, que o Prof. Dr. Pedro Gontijo desenvolvesse toda parte burocrática que permitiu que, nas semanas finais do estágio, fosse possível observar as aulas no modelo virtualizado.

Enquanto esse processo se desenvolvia, a Prof. Dr. Ana Miriam auxiliou a classe e os alunos com base no que era necessário, um primeiro cuidado e acolhimento no período difícil da pandemia em seu auge para tornar a matéria o mais simples e acolhedora possível.

Houve, durante o semestre, duas atividades que foram de extrema importância para a realização do estágio nas atuais condições. A primeira delas foi a atividade sobre material para o ensino de filosofia online, suas referências e autores por trás desta publicação.

Ter realizado tal atividade permitiu a construção de alguns materiais para o ensino de filosofia virtualizado, principalmente em relação a levantamento de material para atividades e perceber algumas diferenças entre a pedagogia presente em uma aula presencial e uma virtualizada; diferenças estas que estão presentes no tempo das atividades, na forma de apresentá-las para manter a atenção dos alunos e os limites possíveis de trabalho, que são diferentes da aula presencial.

Ainda que inovações interessantes tenham surgido para trabalhar com os alunos, houve alguns atritos e desgastes com o atual modelo, que não é propriamente EaD. Segundo a Faculdade de Comunicação da UFG, EaD é caracterizada por uma didática e pedagogia própria, com uma metodologia específica que não é montada de maneira emergencial, como no caso do Ensino Remoto que foi adotado.

A outra atividade, essencial para a conclusão do estágio, foi sobre o Google Classroom e o Google Forms. É essencial entender estas ferramentas, pois a plataforma que foi adotada pelo GDF foi o Google Classroom, e os formulários foram importantes para colher o material de análise do estágio.

Entrevista com a professora Jaine de Sobradinho II.

Estagiário: Quais foram as principais mudanças no ensino de filosofia no modelo EAD?

Professora: O distanciamento físico, a restrição de conversa, a diminuição de troca de experiência e compartilhamento de saberes, a evasão escolar, dificuldade em lidar com o novo modelo de ensino (EAD).

Estagiário: Durante este período, como você sente a carga de trabalho?

Estagiário: Como você, enquanto docente, percebe o engajamento dos alunos? E seu aproveitamento de aula?

Professora: O engajamento dos alunos é pouco, as aulas a distância não me parece estar surtindo o efeito esperado. Alguns assistem a aula, outros só fazem as atividades. Alguns nem aceitaram o convite para acessar a plataforma.

Estagiário: Como docente, você teve alguma experiência ou treinamento anterior com ensino remoto e/ou assincrônico?

Professora​: Não houve experiência ou treinamento anterior. Estou aprendendo sendo durante o processo. Desde o início das aulas EAD, estou fazendo vários cursos. Temos também a ajuda da equipe gestora e coordenação da escola, que tem nos ajudado a entender como funciona a plataforma.

Estagiário: Como você avaliaria a plataforma virtual de ensino até o momento?

Estagiário: A secretaria de educação está fornecendo algum apoio para a acessibilidade dos alunos? E dos professores?

Professora: A secretária não está fornecendo apoio. A escola, bem como os professores, desde o início, tem utilizado seus próprios recursos, para tornar possível o acesso a nova modalidade de ensino.

Estagiário: A matéria de filosofia, em sua opinião, se traduz bem em no modelo virtual?

Professora: Sinto que ainda estamos engatinhando, porém tenho uma perspectiva de que podemos melhorar. Percebo que o modelo virtual ainda limita o diálogo e a troca de saberes.

Considerando as respostas da professora Jaine em paralelo com as respostas dos alunos, temos a denúncia de dois problemas muito graves. A primeira é uma observação da falta de engajamento dos alunos e um possível aumento da evasão escolar, seja os alunos participando parcialmente da plataforma, o que explica a baixa adesão de respostas do formulário. Outro problema gravíssimo é a falta de estrutura operacional para a virtualização das aulas.

Entre os alunos do primeiro ano, as turmas W, V, T e U somavam 58 alunos, e entre os alunos do terceiro, ano 75 alunos. Ao todo, 133 alunos poderiam ter respondido o questionário. Ter 15 alunos respondendo é o equivalente de 11%. A situação que a professora Jaine relata sobre o engajamento dos alunos pode estar denunciando uma situação muito mais grave que o apresentado no questionário. Seria muito importante olhar para esta massa silenciosa de alunos que não estão sendo ouvidos, pensar em que contexto estes alunos estão e suas possibilidades de acesso.

Um trecho importante do que a professora relatou é a ausência de de apoio por parte da secretaria de educação para os alunos, no caso do GDF, segundo a entrevista publicada pela Agência Brasil, com o secretário executivo Fábio Souza sobre como seria a liberação da internet gratuita; que foi muito limitada a operadoras específicas e condições de acessibilidade que não pensaram na acessibilidade material dos alunos, se seus celulares poderiam rodar o aplicativo, se seus aparelhos não seriam antigos e potentes o suficiente e houve reclamações dos alunos por conta do aplicativo não rodar bem.

Para os professores, a situação se apresenta precária, uma vez que não foi oferecido um material comum aos professores para dominarem as ferramentas. Por mais intuitivo que fosse o aplicativo, a professora tem que utilizar de seus próprios recursos e materiais e recai sob a unidade escolar a responsabilidade de equalizar o acesso e realizar a alfabetização e o treinamento digital.

O sentimento de diálogo limitado, de dificuldades para trabalhar e atingir os alunos parece ser um problema metodológico sobre como a estrutura e planejamento, no caso a falta, atinge os professores e seu reflexo para com os alunos.

O sentimento de estar trabalhando mais e atingindo menos os alunos, sem o auxílio adequado e o contexto epidêmico, pode levar a um agravamento da saúde mental dos professores.

Algumas observações sobre o estágio.

1. Ficou claro no contexto pandêmico a necessidade de os alunos de graduação nas licenciaturas terem um conhecimento mínimo de ferramentas digitais, linguagem digital e didática que este formato demanda.

2. Outra adição importante é uma noção básica de cuidados para a saúde mental, tanto para com os professores quanto para com os alunos.

3. Enquanto estudantes de licenciatura, professores e alunos, tendo em vista o prolongamento da situação pandêmica, organizar a estrutura para este ensino e todos os cuidados necessários para seu prosseguimento.

4. Seria interessante uma pesquisa mais ampla com os alunos e professores, para fazer um balanço geral, para buscar os dados mais apurados neste período.


Conclusão

Este estágio apresentou desafios, burocracias e dificuldades ímpares em meio a uma tragédia global, mas no melhor espírito de tentar extrair o melhor possível de desta circunstância, refletir sobre a educação.

Foi uma oportunidade de aprimorar minha experiência como docente e este novo contexto como pesquisador se mostrou útil para repensar alguns parâmetros da educação, tanto em sentido teórico quanto prático.

Relato de estágio

 

Sinceramente, relutei muito em aceitar que o estágio seria online, pensei em trancar algumas vezes, ou fazê-lo de forma estritamente teórica, visto que nos foi dada esta opção. Mas não fiquei confortável com a ideia de participar de uma disciplina de educação tão prática quanto é o estágio, sem ter o mínimo de contato com os alunos. Nunca foi minha intenção aprender a dar aula, ou preparar uma aula pensando em mim, nunca foi sobre isso e acredito que nunca vai ser. Dar aula é sempre sobre comunicação, sobre dar e receber. Então, fazer estágio sem saber em que pé os alunos estão na aprendizagem durante a pandemia, sem saber como eles utilizam o ambiente virtual que foi disponibilizado, não me pareceu uma boa opção. 

Porém, como já era esperado, o estágio este semestre foi completamente diferente de qualquer outra experiência que tivemos antes no ensino. No meu caso, não conhecia a escola, na verdade, nunca sequer cheguei perto da escola na qual estes alunos estão matriculados, não conheci pessoalmente a professora que acompanhei, não vi o rosto de nenhum dos alunos, sequer vi metade dos alunos aparecerem na aula síncrona. Não sei como eles se comportam em sala, quais são os mais conversadores ou os mais tímidos, também não sei se a professora é mais do tipo que escreve muito no quadro ou se apresenta slides. Portanto, a ideia de tentar conhecer quase por completo como se dá o ensino e a aprendizagem neste momento foi ambiciosa demais. Mas, o que eu sei é que o esforço é tremendo, de todos os lados, para fazer a transmissão de conhecimento acontecer dessa forma.   

 

1. Antes do estágio

Uma das primeiras coisas a se preocupar no estágio são os documentos necessários e conseguir as assinaturas de todas as partes envolvidas, universidade, estagiário, departamento, regional de ensino e escola. Antes o que se fazia era levar em mãos os papéis para coletar assinaturas de cada uma dessas partes. O que obviamente não daria para ser feito enquanto todos estão sob recomendações de distanciamento social. 

Então encontramos uma das primeiras dificuldades, o preparo dos documentos. Sabia-se que para eles ficarem prontos, todas as instituições envolvidas deveriam entrar em um acordo de como este processo iria acontecer, e isso levou um tempo considerável. Neste novo meio de organizar a documentação, percebe-se que apesar de todos os enormes pesares, fez-se um jeito diferente de resolver burocracias antigas, cuja principal reclamação era justamente a falta de praticidade. Pois, ter de levar os documentos pessoalmente em todos os lugares nos tomava uma quantidade de tempo relevante, e o principal questionamento era de o porquê desse procedimento não ser feito online. Com a situação pandêmica vimos que é possível, as circunstâncias caóticas nos obrigaram achar uma solução para algo que já era um problema, mas que com a pandemia se tornou, de fato, uma impossibilidade.     

 Tais trâmites burocráticos nos fizeram exercitar as atividades típicas do estágio de outras formas. Formulando atividades que consideramos ser adequadas para alunos de ensino médio, dedicamos também um tempo para aprender como funciona a plataforma Google Sala de Aula, o qual é o meio utilizado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. Explorar as plataformas antes de começar o estágio foi importante para estarmos familiarizados com este ambiente virtual que seria parte da nossa realidade no futuro. Fizemos atividades para nossos colegas de turma responderem, pensando em como relacionar as questões da COVID-19 com a filosofia, uma vez que sempre insistimos que a partir da filosofia se pode pensar sobre tudo.

O fato de a turma de estágio estar sempre em contato facilitou a experiência, afinal, se não fosse dessa forma alguns de nós teria muito mais dificuldade para acompanhar as atividades e, inclusive para encontrar um professor que nos recebesse em suas aulas. No meu caso mesmo, se não fosse um colega colocando no grupo a informação de que a professora de uma escola pública estava disponível para nos acolher, talvez tivesse demorado mais.

 

2. Durante o Estágio

Uma vez que os problemas com a documentação estavam resolvidos, a professora me avisou que eu já poderia participar das aulas e assim foi. Ela estava dando aula nos modelos da semestralidade, no qual os alunos têm aulas de filosofia em apenas um semestre do ano com quatro aulas por semana, e do novo ensino médio, em duas disciplinas eletivas de filosofia. Suas turmas eram de 1º e 2º ano do ensino médio no turno vespertino.

O choque de realidade e o alinhamento de expectativas veio logo na primeira aula, do 2º ano, quando cheguei à chamada de vídeo esperando ver uma turma cheia, e me deparo com cinco alunas. Depois a professora relatou que no ensino remoto era sempre assim, o que nos faz imaginar várias possibilidades para um ocorrido como este. Pois, pensar que é mero desinteresse dos alunos é ser simplista demais. A internet deles pode não funcionar direito, alguns sequer têm internet em casa, eles podem estar ocupados ajudando em atividades domésticas e claro, pode ser também o desinteresse. Mas, ainda assim, tal desânimo pode vir de muitos lugares, pode vir principalmente deste momento do mundo, no qual ninguém está tranquilo e inteiramente centrado, seja aluno ou professor. Além disso, as aulas ficam gravadas, o que lhes permite vê-las a hora que quiserem e fazer seus horários, portanto, eles perdem a interação ao vivo com os colegas e a professora, mas não perdem conteúdo por não comparecerem na aula síncrona. Logo, aulas seguiram desse modo, com pouquíssimos alunos, o encontro em que estavam presentes mais pessoas, contava com doze alunos numa turma de 1º ano.

Nas turmas de matérias eletivas apareciam ainda menos estudantes, em uma delas costumava ter em torno de quatro alunos e em outra apenas um. Ponto importante sobre as matérias eletivas é que elas não contam com material didático pronto, os professores responsáveis por tais disciplinas devem produzir o material, o que aumenta substancialmente a carga de trabalho. Ou seja, além da orientação que recebem para que após todas as aulas se tenha uma atividade, os profissionais do novo ensino médio têm de pensar no conteúdo, elaborar e disponibilizar um material e uma atividade para todas as aulas. Dada nossa realidade atual, estamos autorizados a constatar que estudantes e professores estão sobrecarregados.

Em relação as atividades feitas para os alunos, tive a oportunidade de desenvolver um material para o 2º ano sobre filosofia medieval. Foi proposto em aula para que os alunos assistissem o filme O nome da rosa, baseado no livro de mesmo nome do Umberto Eco. Com isso, fiquei responsável por preparar uma fala para os alunos sobre o filme, abordando a forma que o conhecimento era realizado na Idade Média, como encaravam a filosofia na época e o papel da Igreja no que diz respeito a produção de conhecimento. A ideia era falar um pouco sobre isso em uma aula síncrona, no entanto, nenhum aluno compareceu, então apenas o material escrito foi postado para eles junto com uma atividade do livro didático.  

Por fim, as outras atividades do estágio se resumem a conhecer a sala de aula das turmas no Google Sala de Aula, assistir algumas aulas gravadas e observar a atividades realizadas dos alunos. Quanto as atividades, percebe-se que muitos deixam para fazer de última hora, outros simplesmente não fazem, mas algumas que tive oportunidade de ver demonstravam esforço, é possível perceber que realmente pararam para pensar e responder.


3. Depois do Estágio

Assim como tudo este ano, meu estágio terminou de uma maneira não usual. A professora que estava acompanhando foi devolvida à regional de ensino para a alocação de outro professor, a notícia foi recebida com surpresa. Por isso finalizei antes do esperado e de forma inesperada. Quando acontece de um professor sair assim para outro entrar, a orientação é que se dispense os estagiários a fim de que o novo professor não fique sobrecarregado. Consequentemente, fui dispensada, mas sem grandes prejuízos a experiência como um todo.

Uma coisa necessária para os interessados em lecionar aprenderem, internalizarem e nunca mais esquecerem, é que nós escolhemos estudar filosofia, aqueles adolescentes que sentam em suas carteiras para nos ouvir, não escolheram. As vezes é difícil aceitar que o que temos a dizer pode não ser interessante. No final de todo este percurso vemos o quão difícil é ganhar a atenção dos estudantes, pois uma vez que sua frequência e participação não são obrigatórias, eles não se envolvem. O que nos leva a questionar se quando eles iam à escola, se estavam realmente lá, com a mente presente, e o que pode tornar o estudo desmotivador para eles. Afinal, a culpa dificilmente é só de um lado, é preciso compreensão para ganharmos os alunos de volta, é preciso querer se aproximar.

No fim das contas, se uma matéria não conversar com os alunos, não falar sobre nada que eles conhecem, é muito mais difícil gerar interesse, nossa disciplina também precisa dialogar com seu tempo. Por exemplo, se a filosofia não tiver nada a dizer sobre a pandemia e todos os problemas socias, morais, psicológicos que ela gera, então quer dizer que a filosofia não conversa com o que é atual, logo, não irá gerar identificação. Tanto é que, quando foi feita uma discussão sobre Hipátia e mulheres filósofas, tivemos mais engajamento das meninas presentes, porque quando você se reconhece num problema colocado, a curiosidade vem naturalmente. Ainda que a Hipátia não seja uma contemporânea, o que quer dizer que não há a necessidade de ignorar a tradição para tornar o conteúdo mais atrativo, mais palatável para o adolescente no ensino médio.  

 

Considerações finais

É sempre incrível ver pessoas se esforçando para fazer a educação acontecer em um país como o nosso, que por tantas vezes a negligencia. Ver professores dedicados nos faz acreditar que é possível fazer alguma diferença.

Todavia, percebe-se também que todos estão exaustos e abarrotados de coisas para fazer. Porque as instituições parecem cobrar desses professores e alunos uma produtividade impraticável para este ano. Isso se transforma num ciclo vicioso que adoece a todos. Dado que, a instituição cobra do professor, que cobra do aluno e este não dá o resultado que é esperado, o que gera mais cobrança. Assim ficamos numa roda eterna de exigências impossíveis.

Sem respostas definitivas para a nossa situação, concluo o estágio com o sentimento de que fizemos o que pudemos, mas com a consciência de que é sempre possível melhorar e se reinventar. Pois, os tempos sombrios pelos quais estamos passando, além de provocar sofrimento, também ensinam e, mais do que nunca, é importante aprender a ter empatia com todos os envolvidos neste processo.          

Dois estagiários, uma pandemia

   Fazer o estágio em tudo que ele envolve em tempos normais, já não é fácil. Mas fazer o estágio no ensino remoto em meio a uma pandemia exige de todos nós, alunos e professores, uma paciência em níveis dificilmente alcançados. A começar pela possibilidade com a qual tivemos de lidar, no início de tudo, de não ter estágio. Descartada essa hipótese, carregávamos, a partir de então, um novo pacote de ansiedades, que iam desde perguntas como "será que minha internet vai cair na hora da aula?" até "como vamos conseguir providenciar os documentos para, de fato, fazer o estágio?".  Aqui estamos agora, depois de algumas instabilidades na internet e documentos assinados por muitas pessoas, terminando o estágio. Com alguma experiência e mentes cansadas. 

  Nos próximos posts, teremos dois relatos diferentes de estágio, diferentes escolas, professoras, alunos e estagiários. Mas  são experiências que se complementam, e acreditamos que ter compilado dois pontos de vista distintos de estagiários no ensino remoto neste momento do mundo, pandêmico e caótico, pode ser enriquecedor.

Existe uma filosofia brasileira?

     Qual é a forma da filosofia? Se observarmos dentro do cânone da filosofia ocidental encontramos textos de filosofia escritos das mais diversas formas, Platão escreveu diálogos, Montaigne escreveu ensaios, Voltaire escreveu romances satíricos e Nietzsche escreveu aforismos. Então, qual seria a forma da filosofia brasileira? Não faz sentido pensar, dado este contexto, para não falar de filosofia oriental e africana, que somente artigos escritos ao molde da ABNT ou livros escritos aos moldes acadêmicos seriam filosofia.

    Esta questão não é simples em parte porque já passa por uma questão filosófica, como fazemos filosofia? E não temos a pretensão de exaurir esta questão em um post de blog, mas enquanto reflexão vale a pena o questionamento sobre como seria a filosofia brasileira, talvez alguns livros possam nos ajudar a com seus contornos gerais. 

    Por exemplo, A queda do céu de Davi Kopenawa, um xamã indígena, que neste livro oferece uma profunda e abrangente visão sobre a metafisica e a cosmovisão dos povos originários, um tema filosófico tradicionalmente. Kopenawa nos lembra que as tradições indígenas são orais e que este livro é uma exceção, mesmo que contemporaneamente tenhamos algumas lideranças engajadas, como Ailton Krenak, em divulgar o pensamento indígena, seria importante o engajamento por parte dos atuais professores de filosofia e filósofos para trabalhar este tema. Inclusive para o ensino médio, quanto a questão da oralidade, que não é um terreno incomum a filosofia. 

    A filosofia africana também é importante de ser trabalhada não apenas pelo enorme legado de povos africanos no Brasil. O que já é razão suficiente em importância e necessidade, mas a existência da lei 10.639 que torna para os professores de filosofia imperativo saber trabalhar com a filosofia africana.

    Há também aqueles que investigam o cruzamento entre a literatura e a filosofia, este tema no entanto será abordado em outro post que está programado para ser postado em breve, mas por hora pontuamos esta relação. 

    Por fim deixamos a você leitores do blog uma escolha, caso vocês queiram, entre as escolas de filosofia presentes no brasil no século XIX, qual delas você gostaria de ver apresentada em um futuro post a positivista ou a ecletista? Conte para nós, mas só se você quiser.

Muito Obrigado. 

      

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Por onde começar?

    Existe filosofia no Brasil? Existem filósofos (a)? ou uma filosofia brasileira? Se você é professor de filosofia provavelmente já ouviu alguma destas perguntas ou todas.
    Mas por onde começar? que fontes devo indicar para meus alunos ou usar para montar um plano de aula? É exatamente isso que iremos sugerir neste post, algumas fontes que servem simultaneamente como uma introdução para os curiosos no assunto ou então como o material de apoio para seu plano de aula.

Crítica da razão tupiniquim

    Escrito por Roberto Gomes e publicada em 1990, é um livro de introdução ao tema muito bom, não apenas por contextualizar o debate ao separar as diferenças entre as questões que abriram esta postagem, como também cativa pela linguagem e o humor presentes na obra.
    Sempre fazendo referências a cultura brasileira e desenvolvendo sua reflexão a partir de sua brasilidade, o livro segue um ritmo provocante e de ensaios. O tornado a primeira escolha para uma introdução a filosofia e/ou uma forma de apresentar a filosofia aos adolescentes.
    Por fim, o livro ainda apresenta de maneira geral algumas das escolas de pensamento formadas no brasil, como o ecletismo e o positivismo. De modo que, mesmo que esta seja a primeira vez que você ouve falar destes temas será possível compreender com facilidade.

História da filosofia no Brasil: O período colonial (1500 - 1822)

    Escrito por Paulo Roberto Margutti, o livro é uma obra extremamente detalhada sobre como o Brasil recebe suas influências filosóficas de Portugal e os pensadores brasileiros que, a partir deste solo, refletiram sobre filosofia. O o livro é a primeira parte de uma trilogia focada em historia da filosofia brasileira.
    Dentro da segunda parte do livro, o professor Paulo Margutti também destina dois capítulos para as contribuições indígenas e dos africanos no brasil. A única crítica a esta parte se refere ao seu tamanho muito reduzido para tratar este assunto, mas ainda sim conta com um mapeamento muito bem feito sobre cada local e momento destas contribuições.
    O livro como um todo contém notas técnicas e um dicionário para ajudar em sua leitura que, no entanto, pode ser muito densa. Como um todo o livro internamente é divido por períodos e assuntos o que torna sua leitura muito organizada e objetiva.
    Recomendo, em especial, para os professores que desejam montar um plano de aulas e estão em busca de informações.

Filosofia Brasileira 

    Escrito por Ronie Tales da Silveira, é um livro que se propõem colocar a forma de se fazer filosofia no Brasil como uma questão filosófica, pensando conceitos e critérios de análise a partir da cultura brasileira, o livro mantém uma linguagem acessível sem perder o rigor filosófico.
    Este material tem a vantagem de poder ser baixado de modo gratuito na editora FHI. Uma introdução a este texto pode ser também o podcast filosofia pop, disponível no youtube, que entrevistou o professor Ronie e ele fala sobre seu livro.
    Como uma sugestão este livro pode ser lido por quem desejar uma abordagem intermediaria entre o livro de Roberto Gomes e o livro de Margutti. 

Obrigado.
Deixe seu comentário, mas só se você quiser.  
    

Onde estão as pensadoras brasileiras?

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